domingo, 23 de novembro de 2025

MEU HERÓI




           Meu herói não prende, não mata. Não tem espada, nem capa. Aliás, nem proteção contra vento e chuva ele tem. Sob as estrelas, sem ao menos entendê-las, sabe é a dor do frio e da fome. E a de cada pingo de chuva, sobre o crânio eriçado. Diferente dos heróis do Bial e do Supremo, nunca irá adormecer na frente de uma câmera ou esbravejar num microfone. Meu herói é alegre, dócil e meigo. Só fica 'brabo' e triste quando seus donos saem e não o levam para passear. De solidão e desespero, amarrado a um metro de corrente, ele uiva; uiva como o último dos cães. Mas essa tristeza toda, acreditem, se evapora assim que eles retornam. Felicidade é se saber lembrado. Ainda que persistam a fome, o frio e a impiedade sob o céu infinitamente  insensível. Sem amparo, seu corpo frágil  sente com muita  intensidade toda forma  de dor que possa existir neste mundo. Mas que ninguém, ninguém queira mal ou se indisponha contra os seus donos. Eles também levam uma vida dura, tão dura quanto a de meu herói. Embrenhados nas asperezas do dia-a-dia, esperam igualmente por uma outra vida melhor. Uma vida que se pede a Deus. Porque ele existe, e é fiel. 
Que assim seja.
 

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