domingo, 22 de julho de 2012

PACIÊNCIA TEM LIMITE!








Chega! Basta. Já perdeu a graça. Intraduzíveis a dor  e a angústia de quem, por um motivo qualquer, tenha   de  abrir o nosso jornal de sábado. Tudo começou assim feito pegadinha. É possível que de início alguém tenha encontrado alguma graça, de mau gosto, é certo. Mas o desconforto foi crescendo, e o que era talvez doce logo desadorou-se. Pode-se dizer que hoje é melhor ficar alienado com relação ao noticiário local. Bem, aí você teimou, e o que aconteceu? De imediato, depara-se com um sujeito com a maior cara de pau,  entre uma estrela e uma cruz! Um camarada que no meio da semana  você acabara de topar em alguma esquina, ele perguntou como vai, você respondeu vou levando, e você?   ele responde se melhorar estraga, depois a conversa resvala para o futebol, e ele arremata, enquanto vai se afastando, nesse domingo vamo com tudo pra cima deles! E na sexta... desiste?! Assim, no mais!? 
Gedult Grenze hat!* diria dona Gerta, que era alemã e despachada (outra que me deu um baita susto). Amanhã vou ter com o prefeito.  Que o pleito é pra ontem. Estamos próximos das eleições,  aproxima-se    a época das bondades. Que o prefeito acabe de vez com essa brincadeira doentia. Que elabore um projeto de lei, ou algo assim, e o remeta em regime de urgência à Câmara de vereadores, com os seguintes artigos:
Art.1º Que a comunidade seja organizada em grupos: família, amigos etc, à feição do Facebook. 
Art. 2º Que a ninguém seja dado o direito de  morrer sem o aviso prévio ao grupo a que pertença.
  Parágrafo único. Somente com o consentimento UNÂNIME do grupo será aceito o pedido de alguém que, por qualquer motivo alegado - certeza  que nunca vai acertar na Mega-sena, desencantou-se no amor, não acredita que seu time vá disputar a Libertadores, descobriu que é portador de doença grave, ou simplesmente presa de puro enfado,- deseje partir dessa para o ignorado. 
Temos leis pra tudo, não é?  Que seja essa uma que o atual prefeito vá se orgulhar por muito e muito tempo. E qual o vereador que, por mais obtuso ou despeitado que seja, cometerá a loucura de votar contra um projeto  de tal envergadura?
E assim espero dar minha humilde contribuição para que  os sobressaltos das  manhãs de sábado sejam algo enfim superado...

*Paciência tem limite.
                                                           

quinta-feira, 5 de julho de 2012

ODORICO

De repente o pacato Odorico apareceu de olho roxo. Quem fizera aquilo e por quê? A vizinhança estava tomada pela urticária. 
Dono de um mercado e açougue, fizera promoções, gastara com propaganda na rádio local, mandara distribuir folhetos promocionais de porta em porta; e pra quê?   Pouco  
retorno obtivera. Agora, por conta de um acidente, aquele fluxo de curiosos comprando qualquer coisa para disfarçar, e conferir de perto o tamanho do estrago. Os mais endêmicos não se continham:
-Ué, Odorico... Levou um coice de porco?
-Não, o caso foi diferente...
No início dissimulara com óculos escuros. Ante a inesperada insistência, escancarou o incidente sem o tapume das lentes.
-Não me diga que apanhou da mulher, Odorico...
-Não. O caso foi sério - repetia ele, atrás do caixa, passando as compras da clientela, sem esconder um leve sorriso. Sabia que o mistério se convertera em alma do negócio. E que em time que esta ganhando não se deve mexer...

                                                    
                                                       Outubro/2006