segunda-feira, 13 de agosto de 2012

MEU VELHO


Para Jesus da Costa Lyra


Neste segundo domingo de agosto, Dia dos Pais, fui ver meu velho. Ele nunca deu lá grande importância a flores, mas mesmo assim levei-lhe um buquê de crisântemos brancos. Com as flores, ofertei-lhe meu coração, meus olhos e um Pai Nosso que de memória sei aos pedaços. 
Dia l0 deste mês ele teria feito 87 anos. Faria, porque faleceu num trevo da rs 344, numa manhã nublada de domingo, nove de novembro de 2003. Ele, um velho caminhoneiro, que nunca se envolveu em acidente, foi atropelado por um carro de passeio. C'est la vie, diria Juremir (Machado da Silva). Meu velho sempre dizia que preferia ter uma morte rápida, sem sofrer e fazer sofrer. Cheio de viço, aos 78 anos, foi ao encontro do  seu algoz  pedalando sua velha e inseparável  companheira para pequenos passeios. 
Neste domingo de agosto havia vento norte, e um sol entristecido e morno. Flores e vasos caídos. Algumas sepulturas limpas e enfeitadas. Outras, como que abandonadas. É que  muita gente mal suporta o próprio fardo da vida. Quando muito trazem uma flor e um balde de água para seus entes queridos, em dia de finados.
Meu pai, quando morava em um sítio, tinha um vizinho com quem gostava de conversar; e ajudavam-se mutuamente. Por obra do acaso, e de um infarto ocorrido  alguns dias antes do infortúnio do meu pai, esse senhor hoje descansa a poucos passos do velho.
As virtudes, e também os defeitos, no transcorrer do tempo se convertem em hábitos. E estes possuem um poder impressionante. Entre outras bondades, meu velho cultuava o hábito  da partilha. Seria capaz de dar a camisa que estava vestindo se algum necessitado assim lhe pedisse. Daí, não é de estranhar que uma parte das flores e algum vaso que deixamos pra ele, na próxima visita encontramos no túmulo do seu eterno vizinho. Vejo que meu velho continua o mesmo. E afinal, o que é um punhado de flores pra quem, em vida, nunca ligou pra isso?...

.....
O Velho Caminhoneiro
na Divina Pousada
vai viver na lembrança
de quem vive na estrada.

                                                  

4 comentários:

  1. Olá amigo! Bom dia!
    A história de vida do seu pai muito me emocionou amigo. Você escreve maravilhosamente bem!

    Fiquei encantada com a generosidade peculiar de seu pai. Também me lembrou a do meu que até hoje sai distribuindo o que não tem para os que tem ainda menos. Sabe, há duas semanas passei um susto enorme com meu pai que teve que ser internado no hospital por conta de uma infecção. É assim mesmo, a idade também chegou para ele, mas eu ainda não admiti e absorvi a ideia de que nossos pais fiquem velhinhos, cansados e um dia se vão. É difícil de engolir!

    Lamento por seu pai, mas agora ele está batendo altos papos com o amigo dele não é mesmo? Até do outro lado da vida tornaram-se inseparáveis. Seu conto me emocionou muito!

    Me perdoe a ausência. A vida, as vezes torna-se estranha e muito corrida. Mas, por favor, não deixe de, de vez em quando, me visitar! Sinto-me muito honrada com sua presença!!!

    Abraços e muito obrigada!

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  2. A sua presença é que me honra e muito, amiga. Melhoras para o seu velhinho, e viva intensamente cada instante junto a ele. Obrigado pela visita e comentário. Abraços.

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  3. Assim como a Adriana Helena, fiquei muito emocionada, inicialmente pensei que seu presente de flores fosse em vida. Fiquei, porém, meditando na sua oferta "O seu coração e os seus olhos".

    Essas separações abruptas sempre me chocaram e até mesmo, sinto uma revolta mesmo que discreta.

    Mas a minha calma e o meu consolo, vem de saber que para DEUS não importa a forma como FOMOS PARA ELE, simplesmente o sopro da vida é DELE. Prefiro pensar assim, porque isso diminui um pouco algumas dores que já tive que enfrentar.

    Que você seja um pai que marque os seus filhos e que eles estejam vivenciando a sua face diariamente.

    Um abraço grande

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    1. Sem dúvida, amiga: A Deus pertence nossa vida e somente Ele sabe nosso destino. A nós, compete agradecer-Lhe pela graça de usufruirmos o dom da vida, da amizade, do amor e carinho de nossos parentes e amigos. Obrigado pela gentis palavras, as quais retribuo a você e seus familiares, com muita estima. Saúde, amiga.

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