Numa casinha de ripão e tramela
uma menina queria um quarto somente dela.
Porque
na escola onde estudava
as coleguinhas com muito gosto cantavam:
Meu quarto é assim
grande e arejado
foi decorado
especialmente pra mim...
Tudo o que eu quero tenho lá,
melhor lugar no mundo não há.
Tanto que a menina, constrangida,
um dia também cantou:
Meu quarto é assim...
mas depois ela chorou.
Porque
seu pai, um simples ferreiro
por mais que trabalhasse
nunca juntava dinheiro.
E a mãe, coitada, em casa fazia o que podia
mas dinheiro, dinheiro ela desconhecia.
E a menina chorou,
tanto chorou que seus prantos alcançaram os céus.
E o Bom Velhinho, ouvindo aquele lamento,
apiedado, alisando a longa barba cor de pergaminho,
lascou:
Bueno, mas o que é um quarto pra quem fez o mundo em seis dias?
E se os pais, por mais que labutem
não conseguem atender a essa pequena reivindicação,
que a meu ver é simples e justa,
pensemos então...
E pensando, pensando, o Bom Velhinho
encontrou uma forma bem natural
de realizar o sonho ardente da menina:
instituiu o prodigioso e mais-que-oportuno
encontrou uma forma bem natural
de realizar o sonho ardente da menina:
instituiu o prodigioso e mais-que-oportuno
programa social: MEU QUARTO, MINHA VIDA.
Neste, se inscrevem os pais de toda criança
que sofre e é discriminada
por não ter um cantinho
simples que seja que possa chamar de MEU QUARTO.
simples que seja que possa chamar de MEU QUARTO.
E assim, preenchidos os requisitos legais,
em poucos dias o quarto (e uma ajeitada na casa) se fez,
em poucos dias o quarto (e uma ajeitada na casa) se fez,
para a alegria da menina que hoje é feliz.
E na escola, quando acontece alguém cantar
Meu quarto é assim...
ela apenas sorri...
sem dor.
sem dor.
Janeiro/2007