Menino João pelas ruas cresceu, o perigo e a fome
disputaram o Homem que Maria concebeu.
Levava a vida juntando sucata, tarefa ingrata
magoava seu coração.
Pequeno herói, ao findar do dia, cadê a Esperança?
Acaso existia? (Acaso existia?)
Pobre João, por achar talvez
que o Destino negara melhores searas,
queria viver na embriaguez.
(Na embriaguez?!)
Mas Deus é grande, e a tudo assiste, na gravidade da hora enviou-lhe uma Senhora,
para que João, João desistisse.
Acertada incumbência, pois essa Senhora,
Mãe de Providência, assim lhe disse:
João meu filho, não caia nesse vício.
Não é solução, é desperdício.
Tenha paciência, neste mundo de ciência
alguma lhe dará maior benefício.
(Maior benefício!)
Ficou João sem saber o que dizer,
mesmo assim prometeu que não iria beber.
Sentiu-se bem diferente,
não sabia por que, mas estava contente.
(Estava contente!)
Sentiu-se bem diferente,
não sabia por que, mas estava contente.
(Estava contente!)
*********
Certa manhã João trabalhava,
e algo chamara a sua atenção:
uma carteira de bolso, toda orvalhada,
jogada no chão.
Nela encontrou somente um cartão
com nome e telefone de um cidadão.
Como se fosse um apelo
João ligou bem ligeiro de um orelhão.
(Uma senhora atendeu, bastante aflita:
queria notícias do marido
que havia sumido sem deixar uma pista.
João respondeu que nada sabia,
apenas achara por ali sua carteira [quase] vazia.)
Avisaram a polícia. Um cativeiro
foi encontrado, e o senhor em questão
finalmente libertado.
*********
Nosso João foi comentário geral,
figura estampada em muito jornal.
Além do quê, recompensado:
uma vaga em curso de jardinagem,
pensou que era sacanagem
mas estava enganado.
(Estava enganado!)
*********
E assim a cada dor uma flor,
Deus transformou aquela vida sofrida
num grande jardim.
E assim a nossa história acabou,
olhai Deus agora pra outras histórias
de dor sem
fim.
08/2004