quinta-feira, 19 de abril de 2012

QUINHENTOS REAIS

    O senhor me acredite, ele chegou em casa era uma fera, batendo tudo que é porta.
    -Mas o que aconteceu, homem do céu?
    Sim, o que aconteceu, pois ultimamente andava tão faceiro, tinha conseguido se aposentar, fazia planos: ia comprar isso, consertar aquilo - a casa precisando de reforma. O senhor sabe, desde que a gente veio morar na cidade, só se vivia do arrendamento da terra, às vezes pagavam, às vezes não, conforme iam as colheitas. Mas voltando:
    -O que foi? - repeti.
    -Perdi 500 reais!
    -De que jeito, do bolso?
    -Antes fosse! Ai vagabundas!
    Ai vagabundas? Bem que eu desconfiava. Uma vez me contaram que ele andava me aprontando por aí. Não dei bola. "Quem vai querer um velho barrigudo e cascorrento?" pensei. Pois bem:  uma vez depois lavando a roupa, o que encontro na cueca dele? Bichos! Sim senhor, bichos correndo no fundo da cueca! Fui na loja, comprei uma cama, e assim que trouxeram eu disse: "Taí, ó: a partir de hoje vai dormir aqui, sozinho neste quarto. E trate de arrumar alguém pra lavar tua roupa, seu relaxado!" Agora, de novo?!
    -O que tem as vagabundas?
    -A desgraçada, mãe da piranhinha, me garantiu que a guria era virgem. Que virgem coisa nenhuma! Folgada! Já tinha ido uma duas ou três vezes!
    -Bem feito! - gritei. Me deu um ódio. Deus me perdoe, mas tive vontade de quebrar a cabeça dele à paulada. Chorei de raiva! Saí. Fui na vizinha. "Por que teu marido gritava tanto?" quis saber ela. "Ah, perdeu 500 reais", respondi. "Coitado..." disse a outra.
    Quando voltei, o desgraçado roncava feito porco, estirado na cama, de chinelo e tudo. E uma garrafa de cachaça vazia no lado. Olhei na carteira dele: ainda tinha 50 reais. Pensei: "Se tem pras vagabundas..."´
    Pastor, vim aqui trazer o dízimo, e pedir uma oração. Pra ver se ele se endireita. No fundo não é má pessoa. O que estraga é a cachaça. Meu filho que está bem lá no Paraná, hoje me telefonou. Contei o que tinha acontecido. "Mãe, por que a senhora não atropela ele de casa? Se precisar de alguma coisa eu lhe ajudo. "Não, meu filho. Ainda tenho esperança. Pra Deus nada é impossível."
    (Fora, soprava um ventinho gelado, como quem pergunta: o que fizeram no verão? "Pobre criatura", pensou o pastor, junto à janela, olhando a mulher sumir lentamente pela ruazinha amarelada pelas folhas caídas dos cinamomos. Apertou a nota de 50 na mão. "Perdi 500 reais.")

     
  

5 comentários:

  1. Pior que não dá nem para denunciar no Procon! hahuauha

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  2. Boa tarde.

    Adorei!!
    Marido assim tem que morar em outro endereço.

    Tenha um lindo fim de semana.

    Beijos.

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  3. Putssssssssssssssss!

    Que história,

    E vai reclamar onde?

    Com menor, dá cadeia,

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  4. Um texto que reflete a vida de muitas e muitas pessoas!

    Obrigada pela visita, volte quando quiser!

    Por aqui fico..

    ..Saudações...

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  5. Às amigas Amapola, Alê e Vanessa; ao amigo Fabio: pela visita e comentário, de coração, meu muito OBRIGADO!
    Vanessa, sejas bem-vinda.

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