domingo, 6 de maio de 2012

A PESCARIA DOS TRÊS COMPADRES







Três compadres resolveram pescar. Era um domingo, meia tarde, depois de um fabuloso almoço que teve carne assada, salada à vontade e muita cerveja. Só escuta.
O primeiro compadre, dono da casa, que é tarado por pescaria, convidou o segundo, que também é, que convidou o terceiro, que aceitou só para não fazer desfeita. Juntaram iscas, anzóis, umas de pinga e, deixando em casa mulheres e filhos tomando mate e beliscando guloseimas na sombra da varanda, lá se foram estrada afora num fiatzinho 147 preto, por sinal bastante judiado mas que levava no pára-choque traseiro a seguinte conclusão a que o dono chegara: Quando a galinha é boa o pinto não falha...
O motorista era o que estava menos bêbado: tinha tomado só 1/2 dúzia de cerveja. Era janeiro e fazia um sol de rachar. Tinham patrolado a estrada e havia muito pó e pedra solta. No carro, que pulava que nem cabrito quando foge, bebiam e davam risada. Só escuta. E lá pelas tantas, no meio de um cerro, o cabritinho tossiu, tossiu e se acrocou. Com um pé no freio e outro na embreagem, o motorista beliscava que beliscava na chave e o cabritinho nem-te-ligo. Tentou mais uma vez e nem sinal. Botou em ponto-morto, e veio de ré. Não deu outra: caíram numa baita sarjeta. Por sorte ninguém se machucou (Santo Onofre sempre acode bebum). E logo apareceu um trator. Rebocaram o cabritinho até a ponta do subidão. No lançante conseguiram dar arranque. E tocaram.

Dali uma distância pegaram uma estradinha que descia até uma biboqueira: era o caminho que conduzia ao rio Cascavel, onde um dos compadres dizia conhecer um pesqueiro que dava jundiá e taraíra em quantidades.
Debaixo de um timbozal atracaram o veículo, e apearam. Dividiram linhas, iscas e se enfiaram mato adentro. O sol já estava caindo e os passarinhos faziam algazarra.
Na beira de um poço ficou um compadre aqui, outro ali, e o terceiro mais distante, rio acima. Os peixes logo começaram a beliscar. E de vez em quando alguma corrida, mas taraíra ou jundiá, que é bom, nada. Então aquele que não sabia nadar, pra bem de usar um anzol de fisgar tilápia, resolveu procurar outro poço, que era mais profundo. Só escuta. E não adiantaram avisos dos companheiros. Por teimosia ou má conselho da malvada, o camarada desapareceu dentro de uma bossoroca que conduzia as águas da chuva até o rio. E mandou minhoca n'água. O terceiro compadre, que estava no alto, só olhava.
Escurecia. Sapos e rãs numa ladainha sem fim.
Então de repente, se ouviu um grito:
-Olha a cobra!
Aquele que estava lá embaixo se vira, e dá de cara (digamos assim) com uma quatiara de quase um metro, que já preparava o bote. O índio dá um berro, balança e -tchimbum!- na água. Pronto. Era só o que faltava! E agora, meu amigo. Saia dessa!  Só escuta. O homem se batia, gritava, afundava, se afogava, aparecia e sumia de novo. O outro, também apavorado, despencando pelo barranco gritava: Já vou! Já vou! E o terceiro compadre,  ouvindo aquele tendéu todo, achou que eles faziam aquele alarido por terem pego algum peixe extraordinário, e perguntava:
-É grande? É grande?
-Fulano caiu na água! Ajuda aqui! - gritou o segundo.
Deu um trabalhão, mas conseguiram fisgar o afogado pela cinta da calça, usando pra isso um varote de canela-de-veado. O vivente se salvou. Mas vomitou um tanque de água barrenta.
E já que estava escuro, e tinham esquecido de colocar querosene no lampião; e como não tinham pegado nada, e por estarem encharcados, resolveram voltar pra casa, antes que acontecesse o pior.
E na volta abriram a última de pinga e caçoavam do afogado: Mas era grande o peixe!... E quá, quá, quá!
E o cabritinho parecia que ia se desmanchar no cascalho, a estradinha iluminada por um único farol.
E assim encerramos a presente aventura dos três compadres, que retornaram sem peixe, é verdade, mas salvos e (quase) sãos.
Alguém poderá  perguntar: E a cobra, afinal, que fim levou? Mataram, fugiu? Mais o que aconteceu foi o seguinte: um dos compadres pretendia apenas dar um susto no outro; e a quatiara que este viu não passava de um pedaço de meia-calça enroscado num galho de  unha-de- gato. O que faz a cachaça...

                                               Dezembro de 2007

7 comentários:

  1. Eita marvada véia! hauhauhauha

    Mas as pescarias não teriam a mesma graça sem ela, né? E sem dúvida foi uma brincadeira sadia essa de falar da cobra HAUHAHUAUHA

    Ah... Taraíra é o mesmo que Traíra?

    Abraço!

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  2. Olá amigo! Passando para agradecer as honrosas visitas e informar que estamos de volta, e que continuamos contando com as costumeiras atenção e colaboração.

    Pescaria só com ela, quando parei com a companhia dela, deixei de pescar. Rsrs.

    Abraços e uma ótima semana pra ti e para os teus.

    Furtado.

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  3. Bela história...

    Obrigada pelo carinho

    Saudações

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  4. Fabio: taraíra é o termo mais empregado por estas bandas para denominar o peixe de rio da família dos Caracinídeos; o mesmo que traíra.
    Alê e Vanessa, di cuore, obrigado pelo carinho.
    Ao amigo Rosemildo, boas vindas. Aqui também as portas do rancho estão sempre abertas.
    A todos, grato pela visita e comentário. Tenham uma excelente semana.

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  5. Êeeta pinga sô! Gostei da história.
    E do seu blog também.
    Abraço e boas ideias!

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