segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

ENTRE O DISCO E A TELA



      Numa manhã de inverno nós a encontramos, enrodilhada entre a cerca e o disco de arado semi-encravado no chão que serve de limpa-pés quando se vai à horta nos dias de chuva. Veio assim como se dissesse vocês já têm dois, o que custa ter mais um? Ou uma?
     Porém havia um porém: achávamos que dois cães eram mais do suficientes, e que três seriam demais. E de pronto a devolvemos à rua, de onde viera, possivelmente abandonada à noite por gente  de outra cidade que aqui soltava cachorro como quem despeja entulho num aterro.
     Pois bem. No cair da tarde daquele mesmo dia, aparece ela no portão, como a insistir vocês já têm dois...
   Levamo-na para bem longe, fora da cidade, para que  encontrasse abrigo em alguma granja, ou sítio.
    Bom. Dois dias depois, também numa manhã, enrodilhada entre o disco e a tela, toda orvalhada e tremendo de frio e de fome, com os olhos a suplicar, quem estava lá?
    Aí não teve outro jeito, senão lhe dar casa, comida, vacina e um nome: Mel.
    Só.


                                                26.01.13.

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